sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Morte e a Morte Do Poeta * Antonio Cabral Filho - RJ


Morrer a morte alheia
que morreu o dono do corpo
estirado ali na esquina
sem ninguém saber quem morreu

é morrer a morte do corpo
posto que a persona inexistia,
é incluir-se na multidão anônima
e ser mais um ninguém
dos quantos habitam os campos santos.

Eis a morte
enquanto morte,
                                      simplesmente.
Mas a morte do poeta
jamais é morte
enquanto morte simplesmente
por ele ser um
dom quixote sem la mancha
sem rocinante sem espada
sem moinhos de ventos
sem mais nada
para além da musa
e do caçuá de sonhos
que tanto inspiram seus versos.

É que o poeta é um ser gasoso,
movido a substâncias eteretílicas
que acumula ao longo do estado sólido
estranhas toxinas líricas
por ele mesmo ditas poéticas,

como fizeram tantos soterrados
no Cemitério dos Poetas
vítimas da maldição rilkeana
de equanimização com as pedras,

entre tantos alguns amigos meus
como alfredo silva, carlos couto,
pedro giusti, almiro jose,
alfredo chlamtac filho
....................................
e o desconhecido subjacente à linha
marginalizado pela máfia do silêncio,

todos que uma vez evaporados
não puderam ver a fumaça
onde expiraram seus versos,
mas obrigaram a morte a ter trabalho triplo
para eliminar o homem, a obra e os sonhos.
*
**

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sei que sou assim: Desde o princípio até ao fim, só restos de mim.