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-Antonio Cabral Filho-
Nasceu em Jampruca, uma carvoaria,
em Frei Inocêncio, Minas Gerais,
no dia 13 de agosto de 1953.
Altura 1, 65
calça 40
colarinho M,
já fumou, bebeu,
bateu cabeça por aí,
até dar de cara com o sol,
mas deixou disso.
Gosta de viver em paz,
consigo e com os outros
e torce pra não pintar rebu,
porém...
Gosta de ouvir rádio,
detesta telefone, campainha,
barulho no portão,
odeia gente que fala alto,
usa óculos só pra ler
e está ficando calvo.
Só come pra matar a fome
e não recusa jiló como aperitivo.
Adora frutas e doces
e vigia suas compulsões.
Gosta de música, de todo tipo,
mas a mpb domina,
lê de tudo, até jornal do metrô,
e inventa matérias sobre eles
em forma de crônicas.
Já escreveu um monte de livros,
mas editou só três, em papel,
e em e_book 35.
Desconfia dos ateus,
pois já viu um deles
mudar de calçada
devido a um gato preto.
Nunca se filiou a nada,
nem pretende.
Vive de pé-atrás
com quem declara ódio à burguesia
e amor às crianças...
Escritores que mais cultiva:
Graciliano Ramos, Emile Zola,
Maiakovski, Brecht, Benjamin,
Ferreira Gullar, Gonçalves Dias,
e seus contemporâneos.
Tem atração por alguns
palavrões, como buceta, cu,
boquete, 69, frango-assado etc,
beija lentamente, sem respirar...
Não tem preconceitos profissionais,
desde o cabo da enxada
até à mesa de produtor gráfico,
se vira mais que o Faustão.
Quer distância de quem deseja
a morte dos outros,
pois acaba indo na frente,
furando a fila dos defuntos.
É tido por pessimista,
mas só ele sabe o que já viu.
Não troca de guarda-roupa,
pois não coleciona o conteúdo.
Reescreve exaustivamente
seus contos e poemas,
a ponto de desconhecê-los depois
e já fez turismo na cadeia
por subversão...
Faltou comida no quartel!
Também já foi avesso
a modernices tecnológicas,
mas descobriu o leptop
aos sessenta anos de idade
e não se arrepende.
Seus melhores amigos
são os inimigos, pois sabe
o que eles pensam de fato.
Não tem dívidas
e se fosse matar quem lhe deve,
resolveria boa parte
do problema habitacional.
Não é perfeito,
nem é burro bastante
pra deixar de aprender,
mas espera fazer vingança
quando morrer, matando
de chorar os amigos
e de rir, os inimigos,
até o ano que vem.
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