Todo dia bem cedo
Seguem levas de lavadeiras
Com as trouxas na cabeça.
Cada uma leva consigo
Um punhado de farofa no embornal
Para a boquinha necessária.
Todas possuem por costume
Vasto repertório de canções
Para a hora da esfrega,
Que entoam com voz meiga
Enquanto vão-se calmas
As águas do Rio Doce.
E as lavadeiras do Rio Doce,
Com suas canções de alvejar
Lavam a roupa mais alva
De que dão-se notícias
Por todas as redondezas
Espalhando tanta fama.
Mas isso pode ser visto
Na hora do sol a pino
Estendido nos varais.
É brancura de doer
As vistas do transeunte
Da BR 116,
E, segundo as línguas de trapo,
O boto tem sido acusado
De andar por aquelas bandas,
De ser o maior come-quieto,
Pois vive entoando canções
De enfeitiçar lavadeiras,
E possuí-las durante o sono
Sob os ingazeiros floridos
Perfumando o entardecer.
Enquanto lençóis branquíssimos
Brincam de pique com o vento
Nos sonhos das lavadeiras.