Como os últimos momentos são tão iguais, que quando surgem causam sobressaltos, aquele não foi diferente.
Eu estava com os olhos protegidos contra a poluição contextual; por isso, tive de ativar a visão para acreditar e aguçar a memória para ver o moço, tão sobressaltado quanto eu, sentado ao meu lado no coletivo, que tirava cigarros do maço, acendia-os, fumava até à metade e jogava as cinzas e as baganas no piso do carro, entre nós dois.
Mexia-se inquieto, cruzava e descruzava braços e pernas, nas pausas entre um cigarro e outro.
Quando restava o último, acendeu-o, cruzou as pernas e acomodou como quis o braço desocupado sobre o joelho, enquanto chamineava cinzentas baforadas de fumaça, ansioso e exausto.
De repente, atirou o cigarro no chão, e se levantou irritado, dirigindo-se a mim:
- Quê que há meu chapa?! Por que está me prestando atenção?!
Como os últimos momentos são tão iguais que quando surgem causam sobressaltos, fiquei sobressaltado e disse-lhe que finalmente arrancara uma palavra de alguém, pois uma troca de ideias hoje em dia, é coisa de paranóico mesmo.
Em seguida, nós dois, sobressaltados um com o outro, saltamos do ônibus e sumimos, correndo em direções contrárias.
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