NOTÍCIAS DE RILKE
Meu primeiro contato com Rainer Maria Rilke foi através do livro Elegias do Duino. Gosto
do livro, até porque no momento da primeira leitura eu acabara de livrar-me dos
poemas da Cecília Meireles escritos durante e após sua viagem à Índia.
Minha passagem à leitura de Rilke deu-se basicamente por isso: Pensar
que ele fosse místico. Em parte eu estava certo, pois constatei em toda sua
temática, ao longo de sua obra, a força dos poemas escritos sobre companheiros
mortos, elegias a assuntos religiosos, réquiens por isso e por aquilo etc, mas
não foi isso o que me fez esbarrar com a
sua poética, porém, basicamente, o contrário; ou seja, o fator materialista,
como ele encara o labor poético.
Ao dizer isto, remeto-me à polêmica anacrônica a respeito da poesia
aceitar ou não ser um assunto “sistêmico”, isto é, se ela aceita ou não
conceitos filosóficos, enquadramentos ideológicos, aplicabilidades de caracter
etc, tais como poesia idealista, materialista, religiosa, amorosa etc e afirmar
aqui com todas as letras, que ISSO não me interessa, exatamente por considerar
que qualquer tipo de obra estética é fruto do espírito humano e só será
“objeto” a partir de uma escolha pelos indivíduos, mais nada.
Após deixar isso registrado, quero convidar a todos para conhecer a
poesia de Rilke sem essas maniqueisses, como o faria também com dois grandiosos
poetas brasileiros: Murilo Mendes e Jorge de Lima. Mas o Rilke fez-me refletir sobre isso (
tudo!) por uma questão simples, um poema dele que chamou a minha atenção. O
poema fala sobre a atitude dos poetas frente ao mundo, frente a si próprios e
frente ao labor poético. É mais um dentre tantas ELEGIAS E RÉQUIENS DO RILKE,
onde canta com bravura e fala da tão cantada ”oh velha maldição dos poetas”
criticando exatamente a atitude conservadora
assumida , ainda , pela maioria das pessoas denominadas “poetas “ , que
ao invés de se lamentarem perante ao mundo, à vida, às questões que afligem ao
modo de vida e as atitudes que a tudo dizem respeito, deveriam mirar-se no
exemplo da grama que transpõe a pedra e vai buscar o sol lá fora das grades dos
jardins.
Na época em que ralava para encontrar informações sobre Rilke, entre os
anos de 1978 e 80, me debatia sofregamente para colaborar nos Suplementos
Literários, que pipocavam pelo país, mais ocupados em publicar aqueles que lhes
dessem maior visibilidade dentre as panelinhas; mas aconteceu algo que eu
jamais vou conseguir entender: Um poema meu saiu no Suplemento Literário Minas
Gerais.
Não sei se o que tomou conta de mim pode ser chamado de EUFORIA, mas eu
fui ao jornaleiro defronte ao edifício Avenida Central, na Avenida Rio Banco,
176, e comprei todo o estoque do Estado de Minas Gerais; saí distribuindo aos
amigos, na Uff, onde cursava direito; no Curso Santa Rosa, Largo de São
Francisco, onde cursei contabilidade, na Escola de Teatro Martins Penna, por
onde passei e em todo o ambiente cultural carioca, muito agitado na época pela
chamada Poesia Marginal, principalmente pelos Grupos Trote, Nuvem Cigana e
Navilouca.
Mas coisa de um mês depois eu fiquei estupefato: Chegou-me um chamado
do Correio para ir retirar uma remessa e lá fui eu munido de documentos e
apreensões. Ao chegar no guichê, identifiquei-me para a funcionária. Ela foi lá
dentro e voltou com um recibo para eu assinar. Era dinheiro e dizia tratar-se
de Direitos Autorais sobre a publicação do meu poema Odor Primitivo pela
Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Assinei e saí “explodindo” de
felicidade. Eu nunca tinha experimentado uma sensação daquela: Receber Diretos
Autorais!
Portanto,
era “EUFORIA” sim o que eu sentira ao ver meu poema publicado, e receber por isso já era demais! Fui direto à
Livraria Camões e comprei os livros que eu mais “namorara” naqueles últimos
meses e custavam mais de um salário mínimo, mas adquiri a Obra Completa de
Rainer Maria Rilke