Meu Primeiro Amor
*
Meu primeiro amor...
ah meu primeiro amor!
Partiu no poeirão das boiadas
rumo às cidades grandes
e foi trancada num internato,
desses tantos que servem mão-de-obra
aos conventos franciscanos.
Quarenta anos depois,
quase nos esbarramos,
graças à mana caçula,
mas a razão é mais forte,
embora siga vendo seus passeios,
seu caminhar de menina,
seus longos cabelos negros
realçando sua beleza cabocla
sobre essa pele mais roxa
que jabuticaba -
que incendeia todo meu ser.
Sei que entre nós há um tempo,
tempo cheio de afazeres,
de colheitas, cafezais em flor,
Cascatinha e Inhana,
caminhões carregados de cereais,
carretas de leite rumo aos laticínios,
boiadas e mais boiadas
e tudo pode ser removido
num simples olhar...
assim, sem mais nem menos.
Mas o meu primeiro amor real
supera toda fantasia
e segue comigo rompendo rincões
com aquela disposição guerreira
que habita nossas almas
e nos mantém no front do combate.
Por isso, meu primeiro amor menino,
não posso ser tragado pela força dos sonhos
e prefiro crer que o meu primeiro amor eterno
vem de mãos dadas comigo
sobre o tapete vermelho
ou pelo chão espinhoso.
*