quinta-feira, 11 de julho de 2013

CRÔNICAS DO LIRISMO IMEDIATO 6: ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, LEWIS CARROLL * ANTONIO CABRAL FILHO


Era uma menina estudiosa, vinha sempre à biblioteca pesquisar. Nunca desarrumava a seção dos livros que usasse e sempre pedia licença para consultar algo que fosse mais reservado, além de nunca se despedir sem antes agradecer pela atenção dispensada.
- Gente fina é outra coisa, pensava a bibliotecária.
Quando a menina saía, parece que ficava um buraco, um oco, um váquo na biblioteca tamanho era o vazio  que sua ausência causava. É que a presença dela ali sentada caladinha folheando livros, fazendo anotações em seu caderno, às vezes escrevendo por longo tempo, elevava a sensação da importância da biblioteca, da sua dimensão incomensurável como espaço de leitura, pesquisa, lazer e fator cultural na vida das pessoas.
- A senhora pode me ajudar... Seus pedidos vinham sempre precedidos pelo gesto de humildade, fazendo com que qualquer um se colocasse ao seu dispor, pronto a colaborar para o seu sucesso.
Da última vez que veio à biblioteca, ela estava fazendo um trabalho sobre contos de fadas. Chegou devolvendo o Psicanálise dos Contos de Fadas, do Bruno Bethelhime, após ler vários do assunto, mas precisava de um suporte prático, e, entre tira-e-põe livros na seção, espalhou alguns sobre a mesa, junto com seus cadernos, pastas e bolsa. -Tem algum livro de contos de fadas? Perguntou, enquanto recolhia os livros para arrumá-los nos respectivos lugares. Quando a bibliotecária respondeu que iria procurar imediatamente algo que lhe atendesse, rapidamente pôs dentro de seu caderno o Alice no País das Maravilhas, do Lewis Carrol, e jogou a bolsa por cima, foi para a estante guardar os outros e gritou "deixa pra lá, depois eu vejo isso", crente que a bibliotecária não tinha notado nada, demorou o suficiente para que a mesma voltasse à sua mesa, se certificou de que os livros estavam organizados corretamente e passou aos agradecimentos de praxe, como sempre fazia, expressando sua preciosa humildade, pegou a bolsa, pôs o caderno com o livro dentro de uma pasta e foi saindo.
- Boa leitura, você merece! Disse a bibliotecária, sem dirigir-lhe o olhar. Ela agradeceu e partiu se perguntando " Será que ela percebeu?"