quarta-feira, 23 de março de 2016

Fuzuê Dos Amantes * Antonio Cabral Filho - RJ

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Fuzuê Dos Amantes

Pedro matou Tereza,
que o traía com José,
que morava com Maria,
que o traía com Geraldo,
que há oito anos prometia
casar-se com Marli,
que estava boiando na história.

Pedro foi para o Bangu 1,
Tereza para o inferno;
José está no purgatório
com Maria para cuidar
por ter ficado paralítica. 
Geraldo está no caminho.
Marli foi para o céu
com uma pneumonia
e deixou o Conde de Itabirito
monologando com o Pico do Cauê.

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domingo, 20 de março de 2016

Estória Para Contar * Antonio Cabral Filho - RJ

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Estória Para Contar

Essa estória 
de que o olho do dono
engorda o boi
está mal contada.

E para contá-la melhor
é preciso dizer a todos
que o olho do dono
além de engordar o boi,
engorda ainda o porco,
engorda o frango
e o carneiro também.

Mas o que ninguém sabe
é que o olho do dono
não engorda o concorrente
que vive de olho gordo
na saúde do seu rebanho,
nem engorda o empregado
que tem de ficar esperto
com a balança do plantel
e a usura do patrão
ou vai virar alpercata
para os pés da governanta.

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quarta-feira, 16 de março de 2016

Ócios Do Ofício # Antonio Cabral Filho - RJ

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ÓCIOS DO OFÍCIO

Vida de poeta
não é fácil;
construir o poema,
verso a verso
com ou sem jarda,
é como navegar
no mar de Ulisses,
cuja maré
sempre nos apronta
novas surpresas
e o ineficaz instrumento do vate
no labor perene com a peça
nunca concede a imagem explícita
na busca do metro exato
e nos larga no ponto final
sem duvidar da palavra,
prontos a fechar o poema
como quem fecha para balanço
(por motivos de força maior 
reabrirei segunda - feira)
ou como quem esmurra
o ubre da vaca
para que ela solte o leite
e guiar a pena linha a fora
sem deixar que o poema
encalhe nas figuras de retórica,
como se a palavra fosse rosa
e desabrochasse em flor
sem as carícias do sol.
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