quarta-feira, 25 de setembro de 2013

HISTORIAS DE NEGRINHO * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Foto: ASSÉDIO MORAL O QUE É O assédio Moral é qualquer forma  de violência psicológica e moral no trabalho, expondo o trabalhador a situações humilhantes, vexatórias e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. Esta prática atenta contra  a dignidade e a saúde física e psicológica da vítima e compromete a carreira profissional do trabalhador.  AS FORMAS DE ASSÉDIO Muitos indivíduos são vítimas de assédio moral e não sabem. Há várias formas utilizadas pelo assediador, algumas tão sutis que os demais colegas podem não perceber : ameaças constantes de demissão, ofensas, sobrecargas de trabalho, intimidações como chamar a atenção publicamente, apontar o dedo indicador para o rosto da pessoa, fazer gestos obcenos em direção à pessoa, dificuldades criadas para a execução da função, isolamento ou desmoralização publica do funcionário, desvalorizar o trabalho realizado, impedir os colegas de conversar ou cumprimentar a vítima etc. É considerado também como assédio moral desviar o trabalhador de suas funções originais sem justificativa, ou insistir que cumpra tarefas de dificuldades superiores  ou muito inferior ao seu conhecimento e função, com a intenção de humilhá-lo e hostilizá-lo. Sugerir ao trabalhador que peça demissão, divulgar boatos sobre a sua moral, advertir em função de  ausências por motivos de saúde ou porque reivindicou os seus direitos, estão inclusos entre as formas de assédio moral.  O QUE PODE ACARRETAR  A vítima de ASSÉDIO MORAL tem sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais comprometidas, com prejuízos à sua saúde física e mental que podem repercutir negativamente em seu desempenho profissional. O assédio pode levar o indivíduo a sofrer estados profundos de depressão, ausência de autoestima, vergonha, mágoa, revolta, raiva e, em alguns casos, pode resultar em suicídio ou levar à morte por doenças causadas ou agravadas por esta prática. Obs: Este texto foi encontrado na parede do banheiro do ASSAÍ CAMPINHO e foi entregue pelo Prevenção Henrique, que se demitiu por depressão.)  COMO ENFRENTAR O primeiro passo tem que ser a reunião de testemunhas, pelo menos duas; o segundo passo, contratação de um advogado e, o que é fundamental, o terceiro passo: deixar o assediador à vontade, pois é importante que ele continue agindo da mesma maneira, para não descaracterizar a SITUAÇÃO.

Não sei como ocorre com os outros a apropriação de um tema. Sei comigo, das minhas dúvidas interdisciplinares, perguntas sem respostas vindas lá da mais tenra infância, quando via meu pai humilhando empregados da fazenda onde ele era apenas um encarregado sem importância, e eu me inquiria do " por quê " de os outros serem obrigados a trabalharem mais rápido e ele não se dignar a ajudá-los, carregando sacos de seriais também.
Lembro-me que certa vez apanhei porque pusera um saco de milho no carrinho de mão e o levara até ao caminhão para o ajudante jogá-lo para cima. Lembro-me como ele gritou " cê num é ninhum nigrinho! ".
Daí em diante, essa palavra cravou em minha alma e muitas vezes ela queimou o meu rosto, fosse fazendo frete nas feiras livres, fosse virando concreto nas obras, ao ser discriminado por ser um "Nigrinho".
Mas cada vez que tive oportunidade, fui estudando no folclore brasileiro e na história social do país, a presença de casos envolvendo o povo negro, sobretudo as crianças. O mais emblemático deles, para mim, é o Negrinho do Pastoreio, que podemos conferir abaixo...
"O Negrinho do Pastoreio é uma lenda afro-cristã. Muito contada no final do século XIX pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular na região Sul do Brasil.
Na versão da lenda escrita por João Simões Lopes Neto, o protagonista é um menino muito negro e pequeno, escravo de um estancieiro muito mau; este menino não tinha padrinhos nem nome, sendo conhecido comoNegrinho, e se dizia afilhado da Virgem Maria. Após perder uma corrida e ser cruelmente punido pelo estancieiro, o Negrinho caiu no sono, e perdeu o pastoreio. Ele foi castigado de novo, mas depois achou o pastoreio, mas, caindo no sono, o perdeu pela segunda vez. Desta vez, além da surra, o estancieiro jogou o menino sobre um formigueiro, para que as formigas o comessem, e foi embora quando elas cobriram o seu corpo. Três dias depois, o estancieiro foi até o formigueiro, e viu o Negrinho, em pé, com a pele lisa, e tirando as últimas formigas do seu corpo; em frente a ele estava a sua madrinha, a Virgem Maria, indicando que o Negrinho agora estava no céu. A partir de então, foram vistos vários pastoreios, tocados por um Neguinho, montado em um cavalo baio.1"
Poderia lhes contar inúmeras histórias sobre o "aparecimento" do Saci ou porque só apresentam o capeta como um preto, mas vamos deixar isso pra depois. Quero lhes mostrar algo mais. Como morador de Jacarepaguá, gosto de investigar certas histórias. Daí, fui fazer uma pesquisa sobre a Santa Nossa Senhora da Penna, cuja igreja fica no topo da Pedra do Galo, Freguesia, e venerada como protetora dos escritores e jornalistas. Leiam: "Narra a lenda que um pequeno escravo perdeu de vista a vaca que tomava conta, sendo ameaçado de punição por seu senhor se não a encontrasse. Muito aflito, o menino pediu ajuda à Virgem Maria. Nesse exato momento do alto da Pedra do Galo, surgiu Nossa Senhora apontando para o lugar onde se encontrava o animal desaparecido. O milagre foi presenciado pelo fazendeiro, que, em agradecimento à Virgem, mandou construir a ermida e alforriou o escravo.( Aventura na História de Jacarepaguá, pag 95, Waldemar Costa )"
Vejam como a presença do Negrinho se faz forte na construção do imaginário escravista, apresentando mais uma forma de subjugar o negro desde as suas raízes, a infância. Neste caso aqui, a semelhança com o Negrinho do Pastoreio é total.
Mas tudo isso só vem configurar o modo "natural" de usar o negro como estigma de submissão, da mais escrachada expressão de racismo, evitando expor grandes exemplos da escravidão europeia  anglo-saxônica, que produziram grandes rebeldes, como Robin Hood, conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres, o que leva-me a perguntar "Por que não apresentar um herói branco, que foi submetido por seus iguais? Qual é o problema, é a cor?" E eis que me deparo com a imprensa toda apresentando o mais novo exemplo de escravidão infantil negra, criado pelo grupo econômico que ocupa o quarto lugar na grade dos maiores do continente americano, decorando a área de padaria de suas lojas com a figura de um NEGRINHO: O Grupo Pão de Açúcar.
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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

POEMA SÓLIDO * ANTONIO CABRAL FILHO

Foto -Marshall Berman
POEMA SÓLIDO
Antonio Cabral Filho

Inútil Marshal Berman
e sua carona descarada
dançar fox-trot
sobre uma frase de Karl Marx,

pois ele não sabe
o que é sólido
sob a ótica marxista,

não sabe da solidez do poema
quanto Marx da marmita azeda,

não sabe da solidez do poema
quanto o operário e o patrão
sabem do relógio de ponto,

não sabe da solidez do poema
quanto o engenheiro do concreto
que sustinha as Torres Gêmeas,

não sabe da solidez do poema
que não se desmancha no ar
como fez o World Trade Center,

não sabe da solidez do poema
quanto o suicida do avião
em onze de setembro de dois mil e um,

não sabe da solidez do poema
que manda tudo pelos ares
sem Marshal Berman, nem suicidas nem Marx,

não sabe da solidez do poema
que manda tudo pro inferno
junto com George Bush e Osama Bin Laden,

não sabe da solidez do poema
que toma café à janela
na tarde de domingo chuvoso
feliz com o viço da plantação.

domingo, 15 de setembro de 2013

LENDAS DO AMOR * ANTONIO CABRAL FILHO

Há muito não visito Niterói. Mas o Araribóia continua o mesmo. Os meninos de rua também. Agora, a estação das barcas não tem mais cobertura, não tem mais conforto para os visitantes, moradores de rua, assaltantes de tocaia, pedintes, vendedores de bugingangas, butecos ordinários, cambistas de bilhetes lotéricos etc, mas se eu chegar na cidade que já foi capital do estado e não ir a Gragoatá, perdi a viagem. 

Só que hoje eu empaquei. Parei no portão da UFF e fiquei olhando o ir e vir de estudantes, coisa que eu já fiz também. E lembrei-me dos romances que "assisti". É verdade, eu "assisti" muito romance na vida universitária. Alguns marcantes. Outros mesquinhos. Mas tem um que deixou lembranças tristes. É que um amigo meu, o Almiro, conheceu uma menina, a Samira, estudante de psicologia. Eles se apaixonaram tanto um pelo outro que parecia uma doença. Brigavam de tirar sangue um no outro. Não foram poucas as vezes que, nós, os amigos, tivemos que nos intrometer e separá-los, porque estavam machucando um ao outro. E, tão logo eram separados pela "plateia", se refugiavam no banheiro e iam trepar. Muitas vezes nos maldizemos por tê-los separados por ficar de cara-grande, envergonhados...
Mas num domingo desses qualquer a turma marcou de se encontrar na Praia das Flechas, em frente a Pedra da Itapuca. Todo mundo levou comes e bebes. Só que não contavam com a presença do casalzinho para criar problemas; ou seja, eles sabiam da rejeição da turma pelo comportamento deles. Toda a turma sabia, também, que ambas as famílias não aprovavam aquele envolvimento de uma mulher lá com seus trinta e um menino na altura dos 19, o que lhes causava certa dificuldade para ficar juntos, pois não dispunham dos equipamentos familiares. Ou seja, de certo modo, sofriam com o romance e a repulsa de todos os lados. 
Isso leva-me a pensar naqueles "amores doentios", coisa de Camilo Castelo Branco, William Shakespeare, Gabriel Garcia Marques e cia... mas sem a "entourage" dos mesmos. Lembra-me também dos lacanianos, freudianos, reichianos, que fizeram "escola" às custas desses amores mesquinhos, a ponto de gerarem receita aos espertalhões do divã...alô Dr Gikovate!
Já vendi muito livro desse Autor para garantir meu pão-de-cada-dia. Mas, segundo a turma, eles chegaram na praia por volta das dez; uns foram montar as barracas, outros pôr as bebidas para gelar enquanto as meninas preparavam suas toalhas e esteiras para pegarem um bronzeado.
Quanto ao "casalzinho", ninguém se metia no roteiro dele; mas nem demorou a surgir o primeiro "inquérito", pelo fato de ela querer ficar pegando sol e ele quer mergulhar; rolou um empurra-empurra, me pega-me larga, me-deixa-me-solta, mas nada que a turma-do-deixa-disso não pudesse resolver. 
Devido à ocupação do pessoal com os preparativos pré-mergulho, ninguém notou o desenrolar das coisas do "casalzinho"... só que ninguém percebeu que a "digníssima" estava sentada na areia, bem na beira da água, com a cabeça sobre os joelhos e os braços cruzados em torno do rosto, tremendo e soluçando. A razão foi notada quando  a dita apontou para a Pedra da Itapuca, e, gaguejando, disse que ele pulara; depois de muitos soluços, conseguira dizer que ele não voltou... A colega chamou a atenção de todos e alguém meteu a cara n'agua e foi ver se encontrava o Amigo Almiro. Mergulhou uma vez e voltou e nada; mergulhou outra vez e voltou e nada; dado ao cansaço, outro mergulhou e voltou e nada; mergulharam mais dois e voltaram e nada; e a turma foi mergulhando... até que alguém teve a ideia de chamar o Corpo de Bombeiros, que dado ao fato da cidade ser pequena, chegou rápido e foi logo descendo. Dizem que desceu várias vezes, até que num dado momento um bombeiro subiu com um corpo e perguntou se era ele. O desespero tomou conta. Choradeira geral. Gritos, pragas e ódios vieram à tona; amigos se desentenderam, excessos e xingamentos, mas alguém exigiu respeito e todos se calaram: Era o corpo do meu amigo Almiro, que segundo Samira, mergulhara pelo amor que ele tinha por ela.

Não vou perturbar o seu juízo com minhas lembranças do Amigo, que sempre ficava sentado ao meu lado tocando e cantando Faroeste Caboclo, nem que durasse o dia inteiro; porque era a única música que ele conseguia "tirar" do violão pelo fato de estar no início do curso de cordas na Escola de Música de Niterói. Era uma pessoa promissora, de bom caracter, politicamente independente, cantor e compositor natural, poeta de mão cheia, mas vou deixá-lo com a LENDA DA PEDRA DA ITAPUCA, dado à semelhança mitológica do romance do "casalzinho":
PEDRA DA ITAPUCA
*&* 
Localizada ao largo da Praia de Icaraí 
Trata-se de um monumento natural localizado entre as Praias de Icaraí e das Flechas, sob a designação indígena de Itapuca (pedra furada) por haver tido, em sua forma original, um túnel natural. A pedra foi parcialmente demolida por ordens do Presidente da Província, Conselheiro Pedreira, para dar prosseguimento ao Plano de Arruamento de 1840-1841, criando uma comunicação direta entre os bairros de Ingá e Icaraí.
A "pedra furada" é apenas conhecida através de uma pintura a óleo sobre madeira, de 17 cm x 30 cm, atribuída a Julius Mill. A atual imagem da Itapuca foi, posteriormente, largamente reproduzida. Na República, o Tesouro Nacional fez um ensaio nas oficinas de gravura da Casa da Moeda do Rio de Janeiro, de papel-moeda do valor de 200$000Rs. (duzentos mil réis). Esta mesma paisagem foi escolhida pelo Barão do Rio Branco para seu ex-libris. Também apareceu reproduzida em selos do Correio, em tiragem de dois milhões de unidades, posta em circulação em 2 de abril de 1945, comemorando o centenário de nascimento de José Maria da Silva Paranhos. Em 1907, as lojas maçônicas de Niterói (Acácia, Evolução, Hiram, Liberdade, Igualdade e Fraternidade e Vigilância) escolheram a Itapuca para figurar no timbre de uma nova entidade - o Novo Grande Oriente do Brasil.
A Pedra de Itapuca abriga uma lenda na qual a índia Jurema manteve com o guerreiro Cauby uma aventura amorosa. Conta-se que Jurema estava prometida ao mais forte e bravo dos guerreiros de sua tribo, quando se deparou, um dia, com Cauby, de nação estranha. Desde então, nas noites de lua, Jurema cantava e Cauby a ouvia. Um dia, o romance foi descoberto pela tribo de Jurema, sendo os dois amantes atacados. Cauby, temeroso, fugiu. Curada dos ferimentos, Jurema nunca mais cantou. Muda e triste, permanecia na praia, todas as noites, chorando as saudades de Cauby até que, passadas seis luas, chegara a hora de seu casamento forçado com outro guerreiro de sua tribo. Na véspera, Jurema, mais uma vez, se dirigiu à praia e começou e cantar. Foi quando, saindo das águas, Cauby abraçou-a e os dois se deixaram ficar, protegidos pela lua, até que membros da sua tribo os cercaram, armados e enfurecidos. Na luta desigual, os amantes pagaram com a vida. Nesse momento, Tupã, a pedido de Jacy - a lua - abençoando o amor de Cauby e Jurema, transportou-os para o interior da pedra, onde permaneceram eternamente unidos.
Em 1985, o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC - tombou a Pedra de Itapuca como monumento natural, através do processo E-03/33.538/83, de 9 de junho.


Retirado do livro "Niterói Patrimônio Cultural", editado pela SMC/Niterói Livros...

sábado, 7 de setembro de 2013

RUA FORA DO MAPA * ANTONIO CABRAL FILHO


Era jornal velho
e tinha o endereço
de um antiquário,
mas sua única alternativa
desde que ficou desempregado
era vender os pertences
dos seus avós falecidos.

Com o recorte na mão,
cruza a cidade imensa
cheio da pretensão
de vender a peça rara
para abastecer o lar
e livrar-se de aflições.

Rondou a cidade inteira
em busca da dita rua,
bebeu toda a água de pia
que lhe deixaram beber,
até não ter mais forças
atrás da Rua dos Artistas,
que nem havia no mapa.

É que a câmara da cidade,
através do Di Cavalcanti,
batizou a Rua das Artes
de Rua do Aleijadinho,
mas devido a um despacho,
ainda não consta
no roteiro da cidade.