sábado, 27 de outubro de 2012

Marilyn Monroe Carioca * Crônica * Antonio Cabral Filho


Visitei, dia desses, a Praça General Osório; quanto artesanato! Fiquei maravilhado com as sandálias de couro cru e as bolsas tiracolo de sola vernizada, que pelo que pude notar, continuam na moda.

Gastei um tempão andando; andando mesmo, à esmo! Perdi-me entre tantas barracas e nem notei que ficava uma eternidade diante de uma mercadoria ou outra, examinando, examinando, nem eu sei o quê! E foi num momento desses que me dei conta  de esquecer-me diante das barracas, de estar "fora de mim" naquele mundo dos mestres de ofícios.

Mas lembro-me muito bem que vi souvenir de todo tipo, tais como barquinhos com Yemanjá, São Jorge em seu cavalo branco, índios com arco-e-flecha, negros com berimbau, Pelé com a bola na cabeça, Carlinhos de Jesus sorrindo com um pandeiro nas mãos, casal de mestre-sala e porta-bandeira mirins, vaqueiro com chapéu de couro e seu cavalo campeiro, Beto Carreiro e Corisco, cerâmicas marajoaras, entre tantos! E, de repente, assim de flash, lembrei-me dos índios levados pelos europeus como presentes dos seus amigos daqui da colônia, como é o caso do Botocudo "Joaquim Quack", que o Príncipe Maximiliano Wied-Neuwwied arrastou lá para os confins da Renânia; das duas indiasinhas de dez e onze anos cada abandonadas na Praça Jardim de Alah, Leblon, Rio de Janeiro, por uma "ma-dama", que as "ganhara" às margens de uma "transamazônica" dessas tantas que o Brasil tem; das tantas e tantas negras "Piná" que desde Vila Rica viraram "Chicas da Silva" e habitaram palácios dos morrugas portucalenses; e muito, muito mais, do que alcança minha desgastada cachola de tupiniquim colonizado.

Porém, percebo que o que chamou a minha atenção mesmo foi uma roda de gringos, gringos muito altos e muito brancos, mais brancos do que a brancura habitual que os brancos ostentam aqui nos trópicos. Eles conversavam em alemão e lembravam muito mais uma roda de nazistas com seus cortes de cabelo à Príncipe Danilo do que propriamente um grupo de turistas visitando Ipanema num sábado de manhã ensolarada. Entre eles havia uma mulher loira, de estatura mediana, bem nutrida, típica filha da classe média zonal-sul, dizendo-se professora, formada em pedagogia na PUC-Rio e versada em línguas germânicas; aí o gringo com o qual ela estava agarrada disse lá nos seus falares, que conhecera aquela..." como disse o Vinicius? Garróta de Aipaneme!" na boate Vênus Tropical e foi "amorre" à primeira vista e contou à turma  do alto da sua gaiatice que aqui no Brasil tem um ditado dos primitivos, segundo o qual "amorre de pícar onde batér fícar".  Nesse momento, ela disse-lhes em alemão também, que estava dançando funk no "bonde"  quando deu de cara com aqueles dois faróis azuis brilhando em sua direção e não resistiu...

Foi riso pra todo lado e a conversa prosseguiu  falando dos preparativos para o casório aos pés do Portal de Brandemburgo, mas ficou bem claro pra mim quando ele disse aos amigos que ia levá-la pra "comerre em cásar" Aí, eu comprei uma alpercata e parti, mas na minha mente ficou a imagem de um souvenir vivo...
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