Viajo incômodo
no banco do ônibus
e logo me vejo
vergado pelo sono,
sono insólito,
surgido das sombras do cansaço,
que com seu ataque súbito
domina todo meu ser
e me conduz involuntário
a ouvir seu som de flauta...
Sinto inútil a luta que travo
pra livrar-me do seu feitiço
e vencido, vejo-me
ante um anjo de neve;
ensaio a fuga
e de várias direções
surge o anjo
insinuando-se pra mim
de fronte erguida e olhar distante...
Noto que avanço por uma rua molhada
calçada de pedras portuguesas
e inesperadamente afundo o pé na lama
e o anjo põe-se diante de mim,
percebo seu semblante
me pedindo calma.
Súbito ouço um barulho,
é o cobrador avisando o fim da linha
e concluo que a poesia é assim mesmo:
Um ser intrépido e sem forma
que nos ataca sem aviso prévio
e faz-nos prisioneiros
de emoções estranhas.