sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

KYRIE ÀS VÍTIMAS DO TEMPO EM QUE O SOL NÃO BRILHOU * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

-artelista-
KYRIE ÀS VÍTIMAS DO TEMPO EM QUE O SOL NÃO BRILHOU
*
I
Calabouço
cala boca,

calabouço
cala boca

calabouço
cala boca

calabouço
cala boca

calabouço
cala boca

II

Não diz
não diz
não diz

Deixa ficar inscrito
nos muros mudos do tempo
para que no futuro vejam
o tempo que vivemos

III

Deixa falar mais alto
quem nunca pôde calar

Sr. Silêncio
diz pra mim
diz pra mim
diz pra mim

O que aconteceu
naquele instante
em que fiquei distante
e tudo escureceu

IV
(Breve silêncio)

V

O Sr.Silêncio
não teve palavras para exprimir seu pesar
mas sua expressão fisionômica
nos diz tudo...
***

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mitologia Machu Pichu * Antonio Cabral Filho - RJ

*
Anoitece em Machu Pichu 
e a cortina do dia
revela os contornos da noite,
povoada de traços Incas.
Anjos de arco e flecha
montam guarda,
zelam a paz do Império.

Meu cobertor contém magias,
mistérios além dos tempos,
mas o frio deste Andes
assusta minhas orelhas
e talvez por isso
ouça histórias de ninar,
som de maviosa flauta
possuindo este recinto,

que não é quarto
nem sala nem varanda,
apenas uma tenda;
e a voz de Vovó Chiquinha
diz pr'eu dormir meu soninho
que o Pavão Misterioso
vai levar-me num passeio
com a princesa dos meus sonhos...
- Assim, eu sou obrigado a dormir!
*

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

POEMA DOS EXPURGOS * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Confesso que me esforço
mas não consigo entender
por que um "Stalinista"
diz que os seus dissidentes
são todos uns "trotskistas";

também queria saber
qual é a razão dos mesmos
em tacharem de "Anarquistas"
quem não se proletarize;

mas desconheço até agora
como é que os Anarquistas
expurgam seus dissidentes.
*

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

FÁBULA BRECHTIANA * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

*
Não faça de sua pena uma arma
que a vítima pode ser você,
deveria ser o lema
para críticos literários,
mas não é o que acontece.

Num desses jornalões
com cadernos culturais,
um renomado crítico
faz de seu emprego um fuzil
e mata tudo
que distoa de seu gosto.

A dureza de suas críticas
já levou ao suicídio
muitos jovens escritores
e o monturo de obras
em torno de sua mesa
eleva a tal ponto seu asco
que vez por outra ele faz
com elas uma fogueira.

Mas chegou-lhe dia desses
um livro de poemas
que narra o suicídio
de um jovem também
injustiçado por um crítico
comparando sua sorte
às vítimas da Inquisição.

E quando o crítico deu-se conta
de que na Inquisição,
além de livros
também queimavam-se críticos,
pôs na cadeira o paletó 
e nunca mais deu notícias.

domingo, 19 de janeiro de 2014

POESIA PARA SÃO SEBASTIÃO * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ


TROVAS A SÃO SEBASTIÃO
I
RIO do meu coração,
só tu tens por padroeiro
o santo São Sebastião
alheio a quanto janeiro.
II
São Jorge e São Sebastião
são santos ecumenistas
e por força da missão,
combatem os extremistas.
III
Feliz é ver a cidade
que habita meu coração
ser berço da cristandade
e Lar de São sebastião.

Antonio Cabral Filho
Do livro TROVADOR DE FÉ, vide link...
http://es.calameo.com/read/001893073f7a9743cda5a   
***
RIO DE JANEIRO
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.
Louvo o santo padroeiro
— Bravo São Sebastião —
Que num dia de janeiro
Lhe deu santa defensão.
Louvo a cidade nascida
No morro Cara de Cão,
Logo depois transferida
Para o Castelo, de então
Descendo as faldas do outeiro,
Avultando em arredores,
Subindo a morros maiores,
— Grande Rio de Janeiro!
Rio de Janeiro, agora
De quatrocentos janeiros…
Ó Rio de meus primeiros
Sonhos! (A última hora
De minha vida oxalá
Venha sob teus céus serenos,
Porque assim sentirei menos
O meu despejo de cá.)
Cidade de sol e bruma,
Se não és mais capital
Desta nação, não faz mal:
Jamais capital nenhuma,
Rio, empanará teu brilho,
Igualará teu encanto.
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
(extraído do livro: Estrela da Vida Inteira. autor: Manuel Bandeira. editora: Nova Fronteira.)
______________________
SÃO SEBASTIÃO
São Sebastião
Tua cidade tem as curvas
Quais as curvas de um nobre violão
Não será razão de tanta música bonita
Ter-se feito em sua mão?
Ó Pai Odé
Proteje as matas que circundam esse altar
Que da maré vazante ou cheia
Já se ocupa Yemanjá
São Sebastião do Rio flechado
Em seu peito atravessado
Pelas setas dos seus filhos
Queira Deus que os meninos
Achem a trilha nos seus trilhos
Inspirados na beleza do seu verde e seu anil
E mereçam a cidade estandarte do Brasil
E que outros mil poetas
Venham te cantar, meu Rio
São Sebastião
Tua cidade cor de rosa
Fez da prosa um belo samba de Noel
Se eu fosse Gardel cantaria um tango
Pelo tanto dos encantos de Isabel
Ó meu São Tomé, se alguém duvida
Passe os olhos pela Urca e o Sumaré
Onde a Imperatriz beijou a flor
Porta-bandeira da cidade mais feliz
São Sebastião do Rio flertado
Ribeirão puro, encantado
Sol no casco dos navios
Te naveguem as mais belas
E os mais belos dos bravios
Nessas águas que fizeram de Machado
Suas letras imortais
Entre copas de Salgueiros e Mangueiras tropicais
E que novas musas venham te inspirar a paz
(extraído do cd: Menino do Rio. artista: Mart’nália. selo: Quitanda. gravadora: Biscoito Fino. autor dos versos:Totonho Villeroy.)

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

FLORÃO DA AMÉRICA * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

O menino era pivete
e se chamava Joãozinho,
vivia como engraxate
ganhando a vida por aí
sem deus e sem diabo pra atentar

até que um dia 
foi estuprado por um maníaco
e encontrado morto na Lapa
dentro de um latão de lixo

Não foi homenageado
com honrarias militares
nem imortalizado
num samba de carnaval

Morreu e está morto
morto bem morto mesmo
morto até na memória
o menino que era pivete

e se chamava Joãozinho
que vivia como engraxate
ganhando a vida por aí
sem voz sem vez
e sem lugar na história...

***

domingo, 12 de janeiro de 2014

DELÍRIOS DE PROMETEU * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ


Acossado por despautérios,
as Tróias do presente
e as Cartagos do futuro
obrigam-me transpor o muro
da epopeia de quimeras
e prever que qualquer dia
serei mito de ficção,

algo ímpar na literatura universal,
maior que Sherazad,
maior que Dom Quixote,
mais forte que Os Três Mosqueteiros,
mais valente que Robin Hood,
mais sortudo que Robinson Crusoé
com Segunda Feira e tudo;

desses que viram objeto de estudo
e dão pesadelo em curiosos,
são pesquisados em seminários,
são temas de teses acadêmicas
e motivo de congressos mundiais
com reunião de exegetas renomados,
cada qual com seu aporte
sobre o pobrezinho aqui;

e o maior frison
é o momento culminante
em que todos vão à práxis
acomodados em mesa redonda
para provarem seus enfoques,
quando enfim sou dissecado
letrinha por letrinha
até à exaustão;

inclusive com preleção
de Leonardo da Vinci
e sua aula de anatomia.

Depois, todos partem felizes,
com ares de dever cumprido,
enquanto eu pairo sobre tudo,
alheio ao suor derramado,
à adrenalina gasta
e ao fosfato queimado,
todo senhor de mim,
dono do meu ser ficcional
infinitamente inexaurível,
como bem apraz à obra prima.
***

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CAMINHOS PROVISÓRIOS * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Caminhos Provisórios
E o menino da sua mãe...
O menino que ela acariciava os seus cabelos
Com todo carinho
Pedindo-lhe para não fazer artes,
Juntou-se à poeira das estradas
E sumiu na garganta do Brasil,
Esfumou-se na fumaça dos caminhões
E nunca mais deu notícias.

Até que um dia
Diante da velha Colorado
RQ 24 polegadas
No telejornal das oito,
Ela quase teve um troço:

Ali estava ele
À sua frente
Em cima de um carro de som
Liderando passeatas
Na capital da república.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

DAZIBAO * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

        DAZIBAO

Mao na cama
       Só fez
         Deng
         Deng
         Deng

Mao nas marchas
       Só fez
         Xiao
         Xiao
         Xiao

Mao no poder
       Só fez
         Ping
         Ping
         Ping

Mao na história
       Só fez
         Tian
         Tian
         Tian
             A
            M
             E
            M

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

SONHOS HERÉTICOS * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

(Leonardo da Vinci)

*
Não era anarquista,
sequer fazia tipo:
granada nos dentes,
coquetel molotov nas retinas,
fogo no Palácio de Inverno;

não era ateu,
tipo iconoclasta,
chutando imagens por aí,

nem era louco de pedra,
queimando livros sagrados
pela inquisição da fé,
torturador de beatos
no fogo das heresias.

Apenas não dava dízimo
de fracassos e sucessos
a contas imaginárias,
nem por deuses nem por demos.

Nunca seguiu nada,
sequer seu passos,
pois sempre esteve à frente;
jamais foi aonde
o nariz lhe aponta,
como fez José Régio.
***