quinta-feira, 26 de março de 2015

PARTO RELÂMPAGO - Poema * Antonio Cabral Filho - Rj

CADERNO LITERÁRIO PRAGMATHA
Nº 67 MARÇO 2015
EDITORA: SANDRA VERONEZE - RS
http://cadernoliterario.com.br/autores/585-Antonio-Cabral-Filho 
*
PARTO RELÂMPAGO

Casalzinho namorando no portão,
o clima subindo, altos beijos, 
suores vindo à tona,

de repente a menina solta gritos,
gemidos, urros de dores
vindas das profundezas d'alma

a ponto de o pobre ficar perdido,
sem saber se a pega nos braços,
se a leva para a varanda da casa,

mas de repente ela abre a bolsa
e põe-se a revirar tudo em busca
de alguma solução, talvez um remédio,

e quando menos se espera, pega
uma folha de papel e um lápis de baton
e faz anotações nervosas aos rabiscos.

E ao perguntar-lhe o que houve,
como está se sentindo, se é gravidez,
obtem a resposta, entre dentes:

- Acaba de nascer um poema! 
***

terça-feira, 3 de março de 2015

Segredo De Cristal * Antonio Cabral Filho - Rj

- poetizando-
*
SEGREDO DE CRISTAL
*
O problema da impureza
É descobrir-se impuro,
Descobrir que a pureza
Pertence aos inocentes
E que pedir perdão,
Se desculpar, se humilhar
Para redimir-se dos pecados,
É o cúmulo da indignidade.

Lembro-me do aluno de Kung Fu,
Que pedia perdão ao mestre
Sempre que rompia a disciplina,
E sempre era perdoado
Por suas travessuras,
Até que um dia
Num de seus descuidos
Ateou fogo no templo
Onde se encontrava o mestre
Em retiro espiritual,
E nunca mais
Pôde pedir-lhe perdão;
Então, decidiu nunca mais
Cometer certos atos impensados.

Isso lembra minha infância,
Menino criado livre mato a fora,
Brincar de pique – esconde
Entre tocos de árvores
E toras de madeira rumo às serrarias,
Que virariam tábuas
Para fazer casas, currais, tuias
E numa dessas fugas
Minha linda amada Cristal
Chamou-me para trás
Da tora de carvalho,
E assim protegidos pela escuridão,
Deitamo-nos ao chão,
Lado a lado,
Respiração com respiração,
Quando ela enfiou a mão
Dentro de minha calça
E pegou-me o membro.

A suavidade da sua mão
E a quentura eram tamanhas
Que eu fiquei fora de mim,
Numa excitação de doer.
Recordo-me só suas palavras
“fique calmo, bem calmo,
Nós estamos a sós,
Cobertos pela noite,
Ninguém nos descobre aqui.”

E sua mão em minha cintura
Juntando meu corpo ao seu,
Lembra uma tocha de fogo;
E quando pôs meu membro
Dentre suas coxas
E foi se mexendo lentamente
Conduzindo a penetração,
Eu senti sua buceta fervendo,
Quase desmanchando-me todo...
Seus movimento de vai-e-vem
Revelaram-me uma barreira
Impedindo a entrada do pau,
Coisa que ela resolveu logo
Sentando-se sobre ele
E empurrando com força.

Ficamos assim tanto tempo
Grudados um no outro
Que não dá pra saber
Quanto isso durou.

Sei que ela se mexia com dificuldade,
A boca muito aberta,
Olhos fixos e acesos como faróis,
A respiração ofegante,
Cheia de soluços,
Tudo dava-me a impressão
De que estávamos colados,
Ambos sem saber o que fazer
Pra não desmanchar aquilo...

Com extremo esforço
Conseguimos sentar-nos,
Com ela por cima
E trocamos carinhos,
Beijos afoitos,
Quando notei seus seios
Lindos como em nunca vi
E toquei-os com as mãos,
Como quem toca um cristal,
E beijei-os, beijei-os, beijei-os,
E os beijaria eternamente
Com ânsia tamanha
Que ela envolveu-me a cabeça
Entre seus braços
E assim contorcia-se
Em meu membro
Gemendo com ternura.

A isso eu chamei adoração
E sempre que fugíamos para transar,
Dizíamos “vamos adorar!”
E caíamos na mata
Sob as capas da nossa meninice.
Seu amadurecimento
Veio antes do meu
E da primeira vez que menstruou,
Nós metemos tanto, tanto, tanto
Que ficamos tontos,
Todos lambuzados de sangue,
Bem na boca da pedreira
Onde é a nascente
Do rio Serra do Paiol,
Que lavou nossa inocência
E tornou-nos adultos eternos,
Sem mais direitos ao tempo menino,
Mundo impróprio aos maduros.

Quando tornei-me adulto,
Chamei-a para comemorarmos,
Mas sem dar conta do ato que cometia
Dentro do moinho da fazenda,
Senti sua mão esquerda em meu peito
Comprimindo-me contra a parede
Enquanto a mão direita em riste
Regia uma ópera profana
Explicando-me que agora éramos impuros,
E dei-me conta do que ela dizia...
Acabou-se a brincadeira,
Foi-se a nossa infância,
Secou-se a nossa pureza,
esvaiu-se a nossa inocência,
perdemos a magia do mundo infantil,
fomos expulsos do paraíso
por Nosso Senhor
assim como Adão e Eva
e agora temos de purgar nossos atos
com o suor dos rostos nossos
e viver as consequências
como todas as pessoas normais.

Parece-me até hoje
que suas palavras
naquele momento
cortaram alguma coisa entre nós,
que permanece guardada
num compartimento especial
de nossas vidas,
e nenhum de nós dá-se o direito
de abrir aquela porta...
ainda hoje nos olhamos
com olhares cheios de cuidados,
creio que para não quebrarmos
o cristal do segredo...