sábado, 17 de setembro de 2016

Maria dos Matadores * Antonio Cabral Filho - Rj

Maria Dos Matadores

-edouard manet-

As mães se banham de lágrimas
pelos filhos mortos em guerra,
mas quando eles sobram vivos,
e chegam cheios de glorias,
ostentam-nos, orgulhosas,
alheias a suas matanças.
E esse orgulho vira júbilo
se é viúva de milico
do tipo morto em combate,
qual uma espécie de vingança.

Mas algo muito esotérico
é o parente "puliça",
que expira poder pelos poros
e ameaça a todos por tudo.
"Mexeu com a pessoa errada"
ou "sabe com quem tá falando?",
estão sempre na ponta da língua.
Estes, são maridos
das viúvas de matadores.

E o contrário não é diferente,
bandido e "puliça" empatam
nos abusos do parente.
É um tal "vacilão, x-9"
que todo marginal resolve.

Mas deve-se isso tudo
à Maria Batalhão,
que confunde farda
com uniforme militar
e elemento armado
com homem de dignidade.
P'ela, basta um símbolo d'arma
que o eros entra em alerta.

E brotam desse limbo
as marias de cada porto,
as marias gasolina de toda esquina,
as marias chuteiras da beira de campo
e as marias - vai- com - as - outras
dos bandidos de toda espécie.

São como as prostitutas Maria;
maria sem pai, maria sem mãe,
maria sem filho, maria sem irmão,
que ninguém assume a prostituta maria.
Mas o filho caçula disso tudo
tem o nome de amor bandido
e foi com Maria Bonita
que ganhou status nas artes.

Desde então sobra maria
a trotoir na rol da fama
como heroína dos mocinhos.

Vejam as marias fujonas,
que não perdem a pegada
 de seus toureiros de Espanha:
fazem do canto do galo
a senha para fugirem
no seio da madrugada.

E tudo isso dura só
até o circo entrar na dança
com o palhaço por Cristo
como enredo das modinhas:
E o palhaço, o que é?
É ladrão de muié !

Como Orfeu não dorme no ponto, 
põe Pierrot em ação,
veste o lançador de facas
de mestre - sala
e de porta - bandeira,
a mocinha do picadeiro,
e bota o bloco na rua
cantando:"Mariazinha,
do bolo-bole, peitinho duro,
buceta mole"!

*