segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Ressurreição de Euclides da Cunha * Antonio Cabral Filho - RJ

Ressurreição de Euclides da Cunha
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Ressurreição de Euclides da Cunha

01
Morre Euclides da Cunha
Ao engendrar a sublevação
Da Escola Militar da Praia Vermelha
E atirar seu sabre ao chão
Aos olhos do Ministro da Guerra
Tomás Coelho
Desapontado com seus companheiros
Por não cumprirem o protesto contra o Império
Combinado previamente,
Em 1889, por defender a república.
02
Euclides da Cunha, mais uma vez, morre
Quando foi traído por Saninha
Com o melhor amigo do marido
E parceiro dos treinos de tiro.
03
Uma vez mais morre Euclides da Cunha,
Ao trocar tiro com seu colega de farda,
Dilermando Cândido de Assis,
Amante de sua esposa,
Em 1909, possesso com a traição.
04
Outra vez Euclides da Cunha morre,
Desta feita duplamente,
Ao perder o filho Euclidinho,
Assassinado pelo amante da mãe,
Na tentativa de vingar o pai.
05
Mas a última morte de Euclides da Cunha
Não foi sua morte propriamente...
Foi sua ressurreição sobre a covardia
Do espírito de Judas travestido
Em falso amigo e esposa infiel,
E sua elevação ao céu dos vencedores,
Dos inesquecíveis nomes celebrados pela história
Todo dia em atos e festividades.
Salve Euclides da Cunha,
Pai e filho à luz da glória!
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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Pássaro Azul - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

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PÁSSARO AZUL

Homero desfila pureza,
Zéfiro brinca
de pique-esconde
com a paisagem silente,
pedras e arbustos
compõem o cenário
da tarde tropical.

Mas em Cnossos
o pássaro azul abre asas
para elevar seu trino
ante o aplauso dos deuses.
*
PÁJARO AZUL

Homero desfila pureza,
Zéfiro juega
de esconde-esconde
con el paisaje silencioso,
piedras y arbustos
componen el escenario
de la tarde tropical.

Pero en Cnosos
el pájaro azul abre las alas
para elevar su trino
ante el aplauso de los dioses.

Tradução: Estela Molinas Báez - Paraguai
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quarta-feira, 8 de março de 2017

Meu Primeiro Amor * Antonio Cabral Filho - Rj

Meu Primeiro Amor
*
Meu primeiro amor...
ah meu primeiro amor!
Partiu no poeirão das boiadas
rumo às cidades grandes
e foi trancada num internato,
desses tantos que servem mão-de-obra
aos conventos franciscanos.

Quarenta anos depois, 
quase nos esbarramos,
graças à mana caçula,
mas a razão é mais forte,
embora siga vendo seus passeios,
seu caminhar de menina,
seus longos cabelos negros
realçando sua beleza cabocla
sobre essa pele mais roxa
que jabuticaba -
que incendeia todo meu ser.

Sei que entre nós há um tempo,
tempo cheio de afazeres,
de colheitas, cafezais em flor, 
Cascatinha e Inhana,
caminhões carregados de cereais,
carretas de leite rumo aos laticínios,
boiadas e mais boiadas
e tudo pode ser removido
num simples olhar...
assim, sem mais nem menos.

Mas o meu primeiro amor real
supera toda fantasia
e segue comigo rompendo rincões
com aquela disposição guerreira
que habita nossas almas
e nos mantém no front do combate.

Por isso, meu primeiro amor menino,
não posso ser tragado pela força dos sonhos
e prefiro crer que o meu primeiro amor eterno
vem de mãos dadas comigo
sobre o tapete vermelho
ou pelo chão espinhoso.
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terça-feira, 7 de março de 2017

Sol Ao Quadrado * Antonio Cabral Filho - Rj

Sol Ao Quadrado
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O sol nasce para todos
e os poetas não se cansam 
de propalar a verdade,

mas eles se esquecem
de que há latifúndios,
latifúndios aos milhares,
e latifundiários estendendo léguas
por mais quilômetros de sol,

só para limpar de suas peles
o limo de crocodilo Tio Sam...

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Sombra * Antonio Cabral Filho - Rj

Sombra


Se eu me movo e caminho ou não
O mundo se move comigo
E junto segue outra pessoa
Em forma de sombra.

Aonde eu vou ela me segue
À frente, atrás, aos lados,
Mas me segue, incontinente,
Alheia à minha vontade
E livre do que diz a metafísica.

É a sombra
que não me deixa em momento algum,
mais do que possa minha vã curiosidade
imaginar como isso tudo se dá.

E o mais interessante entre nós
É que viemos pacificamente
 em relação ao espaço
e nenhum de nós quer saber
quem tem prioridade,
quem ocupa mais ou menos latitude,
quem chega ou quem parte primeiro,
se estamos convictos
de que só existimos juntos. 
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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017