segunda-feira, 10 de junho de 2013

CRÔNICAS DO LIRISMO IMEDIATO: 3 - MEU CASO COM OS LIVROS 1: OS LUZÍADAS * ANTONIO CABRAL FILHO


MEU CASO COM OS LUZÍADAS...

Desde criança que o mundo dos livros me fascina, e, a tal ponto que sinto quase DORES quando tenho que desfazer-me de um.
Isso ficou marcado na minha alma ao concluir o primário, quando meu pai, que eu amo tanto, pegou meus livros e cadernos, entre eles um abarrotado de trovas, cartas de amor, poemas e letras religiosas e pôs na fogueira da festa junina da nossa família, com o argumento de que eu já sabia ler, escrever e dominava as quatro operações: Somar, dividir, multiplicar e diminuir.
Jurei, cá com meus botões, vingar-me dele, mas não esperava que isso fosse assim tão profundo, a ponto de tornar-me escritor.
Logo depois que saí de casa, em maio de 68, e cheguei ao Rio, dei de cara com a dureza da realidade: Eu não sabia nenhum ofício para ser útil na cidade, a não ser ficar atrás de um balcãozinho, atendendo aos "fregueis", vendendo pinga, fumo de rolo, "fosfo", pondo gás em isqueiros e escutando conversa para boi dormir. Mas fui salvo por meu Tio Sebastião Cabral, que levou-me para o mundo da construção civil, onde eu me virei rápido; veio o serviço militar e depois eu dei meu jeito, no qual estou até agora.
Mas posso notar que o livro marca presença em mim: Em 1974 eu trabalhava numa livraria, mais para ter acesso a livros e continuar meus estudos rumo à faculdade, devido ao arrocho salarial da ditadura, do que qualquer outra razão, e, nas horas vagas eu ficava lendo pelos cantos.
Certa vez, encontrei uma edição d'OS LUZÍADAS de dar água na boca! Tanto pela impressão caprichosa quanto pelo volume de informações a cerca da obra e do autor. Confesso que grudei no livro, a ponto de o gerente Sr Abel, repreender-me dizendo que eu estava "amassando" o livro. 
Só que um cliente assíduo da loja, num momento desses, se aproximou de mim e perguntou o que eu estava lendo e quando lhe mostrei, ele inquiriu-me:"Quer ficar com ele?" e expliquei-lhe que ELE custava mais que meu salário."Não seja por isso!", replicou e pegou o livro, foi até ao caixa, pagou-o, mandou embrulhar para presente e entregou em minhas mãos. Era Páscoa de 1974, vejam a dedicatória:
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