segunda-feira, 15 de outubro de 2012

BLUES DA YPUCA * Antonio Cabral Filho*

(http://www.portinari.org.br)
Boêmios entornam a última talagada,
gemem acordeons na madrugada,
curiangos malham no ferro-frio
"manhã eu vou, eu vou"
anunciando quimeras,
garçons expulsam os últimos zucrins,
bebuns catam cavacos nas esquinas
e acordam viralatas de rua,
que aprontam o maior barraco
enquanto um despertador abusado
arrebenta a campainha
na casa do vizinho próximo:
- Trimmm! Trimmmm! Trimmmmm!

Chega o dia cheio de ordens
e fecha os bares,
põe os notívagos pra casa
nostálgicos do copo virado,
todos mijando uísque, cerveja,
cubalibre, samba-em-berlim 
e pinga do barril,
aos pés dos oitiseiros,
comendo torresmo estrada afora
pra se livrarem do porre,
deixando o bairro todo grogue
enquanto uma mulher chora
sobre um corpo ao pé do poste,
alheia à indiferença alheia.

Logo-logo a cidade inteira
será ressaca
e ninguém saberá nada
do havido na noite passada.

Mas o inesperado acontece na Ypuca,
bem aos fundos do  Jardim Catarina:
É que os vizinhos se juntam em mutirão
e fazem um barraco pra Tina,
que foi largada por Bilico
com quatro filhos pequenos.

VIDE MAIS CABRAL
* http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br  ou
http://letrastaquarenses.blogspot.com.br  ou
http://acf136.blogspot.com.br