sábado, 15 de dezembro de 2018

Torrão de Minas * Antonio Cabral Filho - Rj

Torrão de Minas
Antonio Cabral Filho - Rj

O burrinho marcha
sob o cavaleiro
-marcha ou trota
não importa-
cobertos pelo sol inclemente
e a poeira vermelha
que os acompanha.

Por plateia
o sertão silente
seco qual a nossa sorte.
Súbito:
-oooô!
E o burrinho estaca!
O cavaleiro apeia
e abre a barriguilha
em direção a nada:
ali deixa a última chuva
dos últimos doze meses.

Mas o burrinho vê
um torrão de terra vermelha
e o recolhe com os beiços:
sua última refeição
das últimas doze horas.

*

domingo, 18 de março de 2018

Pedagogia do Vovô * Antonio Cabral Filho - Rj

*Pedagogia do Vovô*
Antonio Cabral Filho - Rj


Vovô folheia jornais,
Dando a impressão de quem lê,
Mas apenas corre os olhos
Muito rapidamente
E vira a folha.

Seus olhos vão de foto em foto
E às vezes fala com elas –
Viu Marylin Monroe,
Quem manda usar cachecol? –
E sai virando páginas.

Comenta coisas passadas
Como se fossem atuais:
As variações do dólar,
Os preços do barril de petróleo,
Mais um golpe no cone sul
Da América sem sol...

E ao rirmos do Ratinho
Vomitando baixarias  na TV,
Seus olhos se lançam sobre nós
Como aqueles holofotes
Dos pátios de presídios
- agressivos e luminosos –
O suficiente para entendermos:
Silêncio de mudos.

*

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Sonhar em Paris * Antonio Cabral Filho - RJ

*Sonhar em Paris*


*
No banco de concreto
mais afastado
da Praça Paris,

quase em frente à SUAM,
eu e Brigite Bardot
nadamos em suores mútuos,

embalados por revistinhas pornô,
entre tantas, a Fair Play sueca
e os quadrinhos de Carlos Zéfiro,

devidamente nutridos de sonhos
da Padaria do "Seu Mané",
bem ao lado da "Facu"...

Mas ligaram para a polícia
e veio a patrulhinha com dois samangos...
Aí, caímos na real.
*

sábado, 3 de fevereiro de 2018

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Pira do Caos * Antonio Cabral Filho - RJ

Pira do Caos


Na vida

                                  como na poesia

as palavras
são pedras
                      de toque
no tabuleiro
do acaso...

Se percebemos isso,
ganhamos o jogo.

***