domingo, 12 de janeiro de 2014

DELÍRIOS DE PROMETEU * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ


Acossado por despautérios,
as Tróias do presente
e as Cartagos do futuro
obrigam-me transpor o muro
da epopeia de quimeras
e prever que qualquer dia
serei mito de ficção,

algo ímpar na literatura universal,
maior que Sherazad,
maior que Dom Quixote,
mais forte que Os Três Mosqueteiros,
mais valente que Robin Hood,
mais sortudo que Robinson Crusoé
com Segunda Feira e tudo;

desses que viram objeto de estudo
e dão pesadelo em curiosos,
são pesquisados em seminários,
são temas de teses acadêmicas
e motivo de congressos mundiais
com reunião de exegetas renomados,
cada qual com seu aporte
sobre o pobrezinho aqui;

e o maior frison
é o momento culminante
em que todos vão à práxis
acomodados em mesa redonda
para provarem seus enfoques,
quando enfim sou dissecado
letrinha por letrinha
até à exaustão;

inclusive com preleção
de Leonardo da Vinci
e sua aula de anatomia.

Depois, todos partem felizes,
com ares de dever cumprido,
enquanto eu pairo sobre tudo,
alheio ao suor derramado,
à adrenalina gasta
e ao fosfato queimado,
todo senhor de mim,
dono do meu ser ficcional
infinitamente inexaurível,
como bem apraz à obra prima.
***

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sei que sou assim: Desde o princípio até ao fim, só restos de mim.