sábado, 15 de dezembro de 2018

Torrão de Minas * Antonio Cabral Filho - Rj

Torrão de Minas
Antonio Cabral Filho - Rj

O burrinho marcha
sob o cavaleiro
-marcha ou trota
não importa-
cobertos pelo sol inclemente
e a poeira vermelha
que os acompanha.

Por plateia
o sertão silente
seco qual a nossa sorte.
Súbito:
-oooô!
E o burrinho estaca!
O cavaleiro apeia
e abre a barriguilha
em direção a nada:
ali deixa a última chuva
dos últimos doze meses.

Mas o burrinho vê
um torrão de terra vermelha
e o recolhe com os beiços:
sua última refeição
das últimas doze horas.

*

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sei que sou assim: Desde o princípio até ao fim, só restos de mim.