Um Doce Espinho Chamado Saudade
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Ao findar o expediente,
cruzei a tiracola da direita para a esquerda,
dei um confere no black-power,
ajustei a pantalona
e escovei o quichute guerrilheiro,
dei uma beijoca na "Mundinha"
e fui direto pra tendinha do Juca,
peguei uma Pitu e três limões,
e parti lá para o MAM¹,
onde rolava uma geral do Oiticica².
Quase cheguei atrasado
para o slam dos poetas,
mas fui jogado na roda
gritando meus versos.
Hélio Oiticica flutuava no salão..
Depois, formou-se uma roda
no alto da rampa de acesso,
todos sentados no vão
espremendo limão nos copos
se fartando de pinga à vontade;
era o nosso "Samba em Berlim"³.
Falamos por um bom tempo
sobre os avanços das artes
nos últimos anos, de política,
e das liberdades democráticas
pelo mundo a fora,
ainda que burguesas,
do "socialismo" sem liberdade
nem direitos elementares
como respeito à pessoa humana
e a nostalgia guerrilheira
tomou conta, mas gritei:
Vão se deixar fisgar
pelo "doce espinho chamado saudade"?
e fomos todos ver a exposição.
***
1 - MAM: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro;
2 - Hélio Oiticica - Artista Plástico de vanguarda nas décadas de 60-70;
3 - Samba em Berlim - Aperitivo feito com cachaça, limão e Rum, muito usado pela juventude durante os Anos 70.
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Sei que sou assim: Desde o princípio até ao fim, só restos de mim.