- poetizando-
*
SEGREDO DE
CRISTAL
*
O problema
da impureza
É
descobrir-se impuro,
Descobrir
que a pureza
Pertence aos
inocentes
E que pedir
perdão,
Se
desculpar, se humilhar
Para
redimir-se dos pecados,
É o cúmulo
da indignidade.
Lembro-me do
aluno de Kung Fu,
Que pedia
perdão ao mestre
Sempre que
rompia a disciplina,
E sempre era
perdoado
Por suas
travessuras,
Até que um
dia
Num de seus
descuidos
Ateou fogo
no templo
Onde se
encontrava o mestre
Em retiro
espiritual,
E nunca mais
Pôde
pedir-lhe perdão;
Então,
decidiu nunca mais
Cometer
certos atos impensados.
Isso lembra
minha infância,
Menino
criado livre mato a fora,
Brincar de
pique – esconde
Entre tocos
de árvores
E toras de
madeira rumo às serrarias,
Que virariam
tábuas
Para fazer
casas, currais, tuias
E numa
dessas fugas
Minha linda
amada Cristal
Chamou-me
para trás
Da tora de
carvalho,
E assim
protegidos pela escuridão,
Deitamo-nos
ao chão,
Lado a lado,
Respiração
com respiração,
Quando ela
enfiou a mão
Dentro de
minha calça
E pegou-me o
membro.
A suavidade
da sua mão
E a quentura
eram tamanhas
Que eu
fiquei fora de mim,
Numa
excitação de doer.
Recordo-me
só suas palavras
“fique
calmo, bem calmo,
Nós estamos
a sós,
Cobertos
pela noite,
Ninguém nos
descobre aqui.”
E sua mão em
minha cintura
Juntando meu
corpo ao seu,
Lembra uma
tocha de fogo;
E quando pôs
meu membro
Dentre suas
coxas
E foi se
mexendo lentamente
Conduzindo a
penetração,
Eu senti sua
buceta fervendo,
Quase
desmanchando-me todo...
Seus
movimento de vai-e-vem
Revelaram-me
uma barreira
Impedindo a
entrada do pau,
Coisa que
ela resolveu logo
Sentando-se
sobre ele
E empurrando
com força.
Ficamos
assim tanto tempo
Grudados um
no outro
Que não dá
pra saber
Quanto isso
durou.
Sei que ela
se mexia com dificuldade,
A boca muito
aberta,
Olhos fixos
e acesos como faróis,
A respiração
ofegante,
Cheia de
soluços,
Tudo dava-me
a impressão
De que
estávamos colados,
Ambos sem
saber o que fazer
Pra não
desmanchar aquilo...
Com extremo
esforço
Conseguimos
sentar-nos,
Com ela por
cima
E trocamos
carinhos,
Beijos
afoitos,
Quando notei
seus seios
Lindos como
em nunca vi
E toquei-os
com as mãos,
Como quem
toca um cristal,
E beijei-os,
beijei-os, beijei-os,
E os
beijaria eternamente
Com ânsia
tamanha
Que ela
envolveu-me a cabeça
Entre seus
braços
E assim
contorcia-se
Em meu
membro
Gemendo com
ternura.
A isso eu
chamei adoração
E sempre que
fugíamos para transar,
Dizíamos
“vamos adorar!”
E caíamos na
mata
Sob as capas
da nossa meninice.
Seu
amadurecimento
Veio antes
do meu
E da
primeira vez que menstruou,
Nós metemos
tanto, tanto, tanto
Que ficamos
tontos,
Todos
lambuzados de sangue,
Bem na boca
da pedreira
Onde é a
nascente
Do rio Serra
do Paiol,
Que lavou
nossa inocência
E tornou-nos
adultos eternos,
Sem mais
direitos ao tempo menino,
Mundo
impróprio aos maduros.
Quando
tornei-me adulto,
Chamei-a
para comemorarmos,
Mas sem dar
conta do ato que cometia
Dentro do
moinho da fazenda,
Senti sua mão
esquerda em meu peito
Comprimindo-me
contra a parede
Enquanto a
mão direita em riste
Regia uma
ópera profana
Explicando-me
que agora éramos impuros,
E dei-me
conta do que ela dizia...
Acabou-se a
brincadeira,
Foi-se a
nossa infância,
Secou-se a
nossa pureza,
esvaiu-se a
nossa inocência,
perdemos a
magia do mundo infantil,
fomos
expulsos do paraíso
por Nosso
Senhor
assim como
Adão e Eva
e agora
temos de purgar nossos atos
com o suor
dos rostos nossos
e viver as
consequências
como todas
as pessoas normais.
Parece-me
até hoje
que suas
palavras
naquele
momento
cortaram
alguma coisa entre nós,
que
permanece guardada
num compartimento
especial
de nossas
vidas,
e nenhum de
nós dá-se o direito
de abrir
aquela porta...
ainda hoje
nos olhamos
com olhares
cheios de cuidados,
creio que
para não quebrarmos
o cristal do
segredo...
*