terça-feira, 24 de junho de 2014

REVOLIXÃO CURTURAR # Antonio Cabral Filho - Rj

REVOLIXÃO CURTURAR
*

Revolixão curturar
todo mundo faz a sua,
é como aquela palavrinha
que a professora pediu ao Juquinha
com apenas duas letrinhas: cu
e quando fiz a minha
não registrei patente
nem direito autoral,
e, sequer almejo royaltes;

não joguei no lixo nada,
nada quebrei nem rasguei,
sequer poemas enfadonhos,
nada queimei na fogueira
das minhas veleidades,
cheias de valores bem pueris;

nenhum livro de Marx, 
Lênin, Gorki, Brecht
ou Maiakovski,
nenhum disco dos Beatles
ou de Elvis Presley
e nem deixei de ouvir As Valquírias
com todo o virtuosismo de Beethoven ,
nenhum quadro de Van Gogh 
foi parar no porão
nem rasguei os pôsteres
de Brigite Bardeaux,
Mao Tsetung, Tchê Guevara,
Jimmy Hendrix, Janis Joplin,;

não fui fazer análise,
só para ser reicheano,
não abdiquei da carne vermelha,
parceira ideológica
de tantos recrutamentos,
e minha coleção de revistas eróticas
não parou de crescer,
desde o Carlos Zéfiro;

sequer dividi os amigos
entre direita e esquerda
nem promovi limpeza etnica
em gueto nenhum
do meu peito apaixonado,
como nunca deixei
a mulher amada
ver navios em cais deserto
só para sentir-me
o homem do futuro...

Também não troquei
a velha calça jeans
do dia anterior
pela farda verde-oliva
do algures dia-seguinte:
É que a minha
revolução cultural
foi de molécula em molécula,
progrediu sem traumas
e tornou-se, tranquilamente,
revolução permanente.
*

terça-feira, 17 de junho de 2014

ODE A NUPORANGA * ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Ode a Nuporanga 
 Antonio Cabral Filho - Rio de Janeiro - Rj


Não cobiço Maracangalha;
tirar onda de Caymmi...

Não me refugio em Pasárgada,
à sombra de Manuel Bandeira.

Não quero nada emprestado,
nem vivo de faz-de-conta.

Meu Pindorama é Nuporanga,
onde não há nada postiço.

Não preciso ser bonito nem feio,
para fruir de beleza tamanha.

Lá, as Yaras dançam para mim,
ao som de maracás e tantans,

nosso cauim é puro
e maturado ao sereno,

todos cantam seus cantos de festas
a quem festeja belezas e cantos

e vivemos ébrios de deidades
pois todos somos divindades.
*

sábado, 7 de junho de 2014

PODERES MÍSTICOS DA CALCINHA # Antonio Cabral filho - Rj

MOMENTO LITERO CULTUAL - SELMO VASCONCELLOS  - RO
ANTONIO CABRAL FILHO
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PODERES MÍSTICOS DA CALCINHA

São coisas do território das lendas,
estórias dos tempos das altas bruxarias,
mandingas recheadas de mistérios
feitas para durarem além da cronologia,
fatos comprovados de loucuras transcendentais,

tudo bem sedimentado
no alicerce das paixões
possuindo por todo sempre
como pedra fundamental
a peça mais delicada
do vestuário feminino,

expressão da maior sensualidade,
cofre de segredos inenarráveis
e senhora de tontos encantamentos.

É d'onde vem os feitiços
que nos mantem cativos,
como o café da manhã
passado na calcinha
para o homem em jejum
ou a mesma estendida no varal
para o homem passar em baixo
ou ainda o nome dele 
costurado nessa peça
e usada pela pretendente
durante sete dias e noites
seguidas de sete orações
ao Padroeiro Santo Antonio.

Mas isso é para prender
e dizem que para expulsá-lo
é só urinar no seu rastro
que ele jamais lembrar-se-á
da sua antiga pastora.

E, segundo o Manual
do Perfeito Bruxo do Amor,
se a dama pretendente
quiser o homem para sempre,
é só fazê-lo dormir 
com sua calcinha uma noite
vestida sobre a cabeça,
e como dica de apoio
sugere calcinha branca
para um amor calmo e seguro,
bem no ritmo do remanso;
vermelha para amor fogoso
tipo tempestade de verão,
preta para amor cego
como o sol de meio dia,
que brilha despreocupado,
e em se tratando  de mistérios,
é bom ser comedido
senão a sintaxe explode
e vira paroxismo.
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