quarta-feira, 28 de maio de 2014

AUTO RETRATO AOS 6O ANOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

*
-Antonio Cabral Filho-

Nasceu em Jampruca, uma carvoaria,
em Frei Inocêncio, Minas Gerais, 
no dia 13 de agosto de 1953.
Altura 1, 65
calça 40
colarinho M,
já fumou, bebeu,
bateu cabeça por aí,
até dar de cara com o sol,
mas deixou disso.
Gosta de viver em paz, 
consigo e com os outros
e torce pra não pintar rebu,
porém...
Gosta de ouvir rádio,
detesta telefone, campainha,
barulho no portão,
odeia gente que fala alto,
usa óculos só pra ler
e está ficando calvo.
Só come pra matar a fome
e não recusa jiló como aperitivo.
Adora frutas e doces
e vigia suas compulsões.
Gosta de música, de todo tipo, 
mas a mpb domina,
lê de tudo, até jornal do metrô,
e inventa matérias sobre eles
em forma de crônicas.
Já escreveu um monte de livros,
mas editou só três, em papel,
e em e_book 35.
Desconfia dos ateus, 
pois já viu um deles
mudar de calçada
devido a um gato preto.
Nunca se filiou a nada,
nem pretende.
Vive de pé-atrás
com quem declara ódio à burguesia
e amor às crianças...
Escritores que mais cultiva:
Graciliano Ramos, Emile Zola,
Maiakovski, Brecht, Benjamin,
Ferreira Gullar, Gonçalves Dias,
e seus contemporâneos.
Tem atração por alguns
palavrões, como buceta, cu,
boquete, 69, frango-assado etc,
beija lentamente, sem respirar...
Não tem preconceitos profissionais,
desde o cabo da enxada
até à mesa de produtor gráfico,
se vira mais que o Faustão.
Quer distância de quem deseja
a morte dos outros,
pois acaba indo na frente,
furando a fila dos defuntos.
É tido por pessimista, 
mas só ele sabe o que já viu.
Não troca de guarda-roupa,
pois não coleciona o conteúdo.
Reescreve exaustivamente 
seus contos e poemas,
a ponto de desconhecê-los depois
e já fez turismo na cadeia
por subversão...
Faltou comida no quartel!
Também já foi avesso
a modernices tecnológicas,
mas descobriu o leptop
aos sessenta anos de idade
e não se arrepende.
Seus melhores amigos
são os inimigos, pois sabe
o que eles pensam de fato.
Não tem dívidas
e se fosse matar quem lhe deve,
resolveria boa parte
do problema habitacional.
Não é perfeito, 
nem  é burro bastante
pra deixar de aprender,
mas espera fazer vingança
quando morrer, matando 
de chorar os amigos
e de rir, os inimigos, 
até o ano que vem.
***

quinta-feira, 22 de maio de 2014

NAS TRILHAS COM HO CHI MINH # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Ho Chi Minh
ou
melhor
Nguyen Tat Thanh,
nasceu em 19 de maio de 1890 e faleceu de ataque cardíaco em 3 de setembro de 1969, mas seu país, o VIETNAM, derrotou política e militarmente, três das maiores potências capitalistas mundiais: o Japão, a França e, gloriosamente, os EUA.
*
NAS TRILHAS COM HO CHI MINH

Somos todos Ho ChiMinhs,
seguros em nossas trilhas
com a certeza da vitória
rumo à revolução.

Caminhamos sobre minas
por terrenos escarpados
sentindo em nossas nucas
o hálito fecal dos joes.

Cruzamos pântanos rubros
do sangue de nossos irmãos
e vemos corpos cinzentos
boiando sobe o Mekong.

Nossa ração mínima
de água e arroz vermelho
quase parece um fardo
para as nossas condições.

Nossas únicas notícias
sobre a sanha inimiga
é a catinga de pólvora
que aspiramos do vento.

Colunas de Ho Chi Minhs,
comandos de Ho Chi Minhs,
meninos chamados Giaps
tiram o sono dos joes.

Não dormiremos em paz
enquanto houver um yank
maculando nosso chão
com sua fome de miséria.

E se faltar munição,
matá-los-emos todos
com flechinhas de bambu
infectadas de merda.

Vietnam é liberdade,
é paz nos arrozais,
sorriso de nossos filhos
e o canto de nossas mulheres.

Somos todos Ho Chi Minhs
seguros em nossas trilhas
com a certeza da vitória
rumo à revolução.
***

sábado, 17 de maio de 2014

CANTIGA PARA CASSIANO NUNES # Antonio Cabral Filho - Rj

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Mestre Cassiano Nunes - Internet
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Recebi poemas durante anos
do Mestre Cassiano Nunes
e saía com eles pra rua,
levava para os eventos
e lia para os amigos
nas rodas e recitais,

e quando soube da sua morte,
levei um baque; e agora (?),
pensei, mas certo de não ter resposta,
segui de garganta seca.

Senti por não fazer acervo
de tantos poemas que recebi
sempre com dedicatórias
Ao Poetamigo Antonio Cabral Filho,
mas me desfiz deles após
lê-los para o meu público
e publicá-los em meus fanzines.

E a falta que sinto agora,
seja dos poemas ou do poeta,
é a satisfação que vai comigo
enquanto eles se foram
para outras vidas e outras formas.

Mas quando alguém perguntava
após a leitura de um poema
quem era Cassiano Nunes,
eu respondia todo enrolado:
É um paulista nascido em Santos
que foi pra Brasília
e nunca mais saiu de lá!
***

domingo, 11 de maio de 2014

CABEÇA DE TOCO # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

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CABEÇA DE TOCO

Naquelas curvas
que dão voltas no sertão
há casos que o povo conta,

casos de poeira
que sobe nos braços do vento
e faz a Virgem Maria
trazendo anunciação

casos de assombração
que vai em nossa frente
andando andando
sem olhar para trás
sem deixar rastros
nem fazer movimentos

casos de toco toco sim
punhado de tocos
que vivem na beira da estrada
seguindo a nossa viagem
e ficam ali parados
olhando as gentes passar...

e tem toco que vai
segue os passos da gente
e faz o pobre parar
e pôr a mão na cabeça
abestado que só vendo
e perguntar ao sertão
"mas eu num já vi esse toco (?!)
passei por ele agorinha..."

mas tem toco que exagera
e tira tudo do sério:
É toco que tem cabeça,
toco que tem cabeça, é!
Dizem que é...
não é cabeça de boi,
que é maioria 
e não dá nem pra somar;
não é cabeça de burro,
que há em profusão
e ninguém dá conta de contar;
não é cabeça de gente,
que de gente há multidão!

Dizem os andarilhos do sertão
que as cabeças que os tocos tem
é a cabeça do bicho,
é, a cabeça do bicho,
cabeça do bicho, é é é é !!!
***