Ao longo da minha vida tenho me dedicado ao máximo a ler os escritores brasileiros, mais por predileção do que por patriotismo ou nacionalismo ou algo parecido, que não sofro desses males. Mas entre os escritores brasileiros dei prioridade aos nacionalistas, só para verificar em que medida esses autores são de fato patriotas. Por exemplo José de Alencar com o seu "O Guarani", explorando um romance entre um índio e uma mulher branca: Minha simpatia por ele esvaiu-se ao descobrir seus laços com a monarquia no Brasil.
Após uma verificação panorâmica, pude perceber que os tais "nacionalistas" fundamentam suas posições ideológicas no xenofobismo para obterem a exclusividade na exploração dos seus compatriotas. Por aí percebi o quanto somos inimigos ideológicos.
Mas já cometi equívocos. Só para dar uma ideia, cheguei a pensar que José Lins do Rego fosse comunista, graças à profundidade com que aborda os dramas nordestinos em sua obra, quase o igualei ao Soljenitzin do Ivan Denitsovicht, e empaquei ao descobrir seus vínculos com o Integralismo de Plínio Salgado.
Porém, Jorge Amado salvou-me. Foi quando descobri Graciliano Ramos, que juntou-me com a cadelinha Baleia, Dona Flor e seus dois maridos, mais Alexandre e Outros Heróis, para atingir a concepção marxista da arte.
Agora eu saio madrugada a dentro chutando chapinhas na escuridão, posso ler de tudo, e livre de qualquer contágio. Agora, eu reúno Maquiavel, Lévi Strauss, Oliveira Viana e Mariátegui com Lima Barreto, Aluízio de Azevedo, Mário de Andrade, Manoel Bandeira, Drummond, e, de quebra, o Oswald, devidamente sob as ordens da mamãe, só pra zombar de mim, todos sob o comando do velho Lobato, para desafiar o côro das contendas, regado a café do Sítio do Picapau Amarelo com bolinhos de vento da Tia Anastácia, e acabo ileso, avisando a todos que sem Marx não tem saída.
Porém, algo me causava espanto. É que sempre procurei ler meus escritores de ponta a ponta, para não julgá-los apenas por uma obra e fazer deles um juízo errado ou parcial. É o que aconteceu com o Lobato, que li toda sua obra; com exceção de um livro: O América. Sempre deixei-o para depois, empurrado para o lado, para quando desse, e, muitas vezes recriminei o Lobato: Que porra é essa ?! Pra quê um livro com esse título, cadê o patriotismo, o que houve com esse cara?! E seguia impingindo-lhe outras pechas, indignado com meu grande gênio "descobridor do petróleo no Brasil" tão cantado em verso e prosa, e me perguntando se ele teria desbundado, jogado a toalha e fugido sem pedir pinico, abandonado a luta e traído seu povo, como normalmente acontece com a esquerda, que se acomoda ou renega. Mas constatei pior: Percebi que ele, o Monteiro Lobato, nutria uma simpatia mórbida por George Washington. Prova disso é o fato de ele assim que pôs os pés em solo norteamericano, marchou direto para a estátua do cara, aí meu(!), e ficou lá estatelado olhando para o Pai do Tio Sam, creio eu por desconhecer tratar-se do inspirador da doutrina do Imperialismo, ou melhor, da dominação de outras nações a qualquer custo.
Outra coisa que me intrigava era uma frase atribuída ele : "Um país se faz com homens e livros", que eu nunca encontrara em nenhum livro, e que é reproduzida a torto e à direita. E ei-la na página 45 do dito América, das Obras Completas, Editora Brasiliense 1966, com exemplares numerados, ostentando o número 3558 , que vem rolando comigo já há mais de vinte anos, finalmente escabaçado hoje, pra gozar do meu antiamericanismo.
Mas só pra encerrar eu queria perguntar ao Lobato, enquanto o Drummond se empanturra de pão-de-queijo, se no Memorial Lincon e no Obelisco a seu idolatrado Washington ostenta gravada alguma lembrança aos seus compatriotas que trabalharam na construção dessas "homenagens...?!"
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Sei que sou assim: Desde o princípio até ao fim, só restos de mim.