terça-feira, 7 de junho de 2016

Notícia de Jornal - Poema * Antonio Cabral Filho Rj


Notícia de Jornal

Muitos buscam notícias
Perguntando a terceiros,
Bisbilhotando um e outro,
Seguindo a velha arte das candinhas.

Outros ficam contritos
Ante o telejornal,
E há os que acordam cedo
E ficam, literalmente,
Ao pé do rádio,
Ouvindo ticos e tacos,
Depois saem dando furos pelos cotovelos,
Crentes que ouviram primeiro.

Mas eu não,  não sou assim,
Não tenho hora nem modus operandi
Em relação à notícia,
Pois sou leitor de jornal,
Convicto leitor de jornal,
Desde jornal de partido
Até ao pasquim mais marron.

De metrópole ou de província,
É a notícia de canto de página
Encontrada no folheio casual
Sem pretensão nenhuma
Que me acalma os sentidos.

Quem notaria esta chamada
TATU MORTO NA RIO – BAHIA?
Pensei na monstruosidade do crime,
Na Sociedade Protetora dos Animais,
Nos defensores de espécies em extinção
E conclui que não fazem-se mais
Ecologistas como antigamente.

Ao lado tinha um realese
Do Último Tango em Paris,
Fechado com a pergunta
Qual a marca da margarina
Usada pelo mocinho
Pra “sodomar” a mocinha.

Lia-se no resumo da matéria
“foi encontrado morto
Às margens da Rio – Bahia
Altura do km 112
40 anos presumíveis
O corpo de um homem
Cuja alcunha era...”

Meus Deus,
O tatu atropelado na Rio – Bahia
Não era o bicho,
Era um homem, Senhor! 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Canto Firmina * Antonio Cabral Filho - RJ

Canto Firmina


*
Eu nunca fui a Cuman,
nas pegadas de Firmina,
nunca fui sentir a brisa
assim que o dia termina,

colher mensagens de amor,
trocar carícias ardentes,
tostar a pele com chamas
e lufadas de calor.

Eu nunca fui a Cuman,
atrás da mulher sonhada,
que faz daquelas areias
seu Reino de Caliban,

nunca fui chupar a uva,
sorver seu caldo na língua,
ouvir sussurros de Tétis
buscando seu Posseidon,

mas juro aos pés de Firmina,
para que Apolo não caia,
eu mergulho em suas águas
sem nunca morrer na praia.

*