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O poeta vai à sacada
e lança os olhos à rua,
seco de novidades,
de algo que ressuscite
a sua alma
exaurida em solidões,
e só após um longo tempo
olhando para a rua
com seu olhar andarilho
se toca de que ela está deserta,
tão deserta quanto a alma do poeta,
sem ninguém sentado ao meio-fio
ao lado de alguém a postos
para ouvir-lhe as abobrinhas,
sem as levas de crianças
naquele corre-corre nervoso
do pique-esconde, do pique-parado
ou do foge-foge da molecada
que lá vem pai, mãe, sei-lá-mais-quem,
abedunhar o que estão fazendo...
sem nenhuma roda de alterocopitas
concentrados no objeto de adoração,
absortos no mundo de Dioniso,
até verem o olhar frio de Tânatos
lá no fundo dos copos,
mas para quebrar o gelo,
surge um cão perambulando,
meio que perdido, ziguezagueando,
farejando a esmo
pra despistar-se de si mesmo,
até que um gato camuflado
na turbidez sob um carro
salta sobre ele
e a madrugada pega no tranco.