quarta-feira, 24 de abril de 2013

O DEZOITO BRUMÁRIO DE ARTHUR RIMBAUD * ANTONIO CABRAL FILHO


TENHO APENAS VINTE ANOS
A MAIS QUE ARTUR RIMBAUD
E NEM UM SEGUNDO NO INFERNO.

NUNCA PROVEI A TAÇA DA AMARGURA
NEM QUEBREI A CARA NA ABISSÍNIA
E CHEGUEI EM CASA PERNETA.

JAMAIS RENEGUEI MEUS PAIS
NEM MINHA QUERIDA JAMPRUCA
POR SUA VIDA PACATA.

E O FATO DE MOCHILAR POR AÍ
NÃO TORNOU-ME UM ANDARILHO
NEM ME FARÁ URBANÓIDE.

SAIR DA CASA PATERNA, PRA MIM,
É O MESMO QUE IR AO TRABALHO
OU À HORTA COLHER ALFACES.

NÃO QUERO FAZER DO MUNDO
UM MONTE DAS MINHAS CINZAS
SÓ PORQUE EU NÃO ME AMO.

NÃO SOFRO DE "CAZUZISMO"
ACUSANDO A BURGUESIA
POR FALTA DE IDEOLOGIA.
*&*
TEM BRASILEIRO NA COREIA...
*&*

quarta-feira, 10 de abril de 2013

TERRA DE POSSE * ANTONIO CABRAL FILHO


Nasci em 14 de agosto de 1953, no povoado de Jampruca, então Distrito do Município de Frei Inocêncio, Estado de Minas Gerais. O local era uma carvoaria. Meus pais e demais familiares, parte formada por Nativos e parte brancos, portugueses e italianos, sobreviviam disso. Na época, anos 50, haviam na região conflitos agrários envolvendo os dois lados da família, dividida entre "grileiros" e população Nativa, na disputa pelas terras, muito férteis naquela região do leste mineiro, pelo menos àquele período. 

Não tenho lembranças precisas das ocorrências sobre os embates dos quais meu pai participava, mas lembro-me, muito bem, de sairmos no meio de uma noite, montados em burros, seguindo por uma estrada de rodagem, às vezes quase esmagados por carretas carregadas de toras de madeira, que passavam por nós tocando suas buzinas e nos intoxicando com a nuvem de poeira vermelha que levantavam.  

Viajamos até ao anoitecer, quando chegamos em um local, que muito tempo depois, eu fiquei sabendo chamava-se Colatina. Estávamos no Estado do Espírito Santo. Hospedamos na casa da Vovó Olinda, à beira de um rio imenso, muito perigoso, devido à forte correnteza de suas águas. Era o Rio Doce, na sua parte Capixaba, contou-me meu Avô, enquanto pescávamos, sentados em uma pinguela que cruzava o rio.

Daí, da casa dos meu avós paternos, fomos morar no meio de um cafezal, numa localidade chamada Laranjinha. Aí, nasceu e morreu meu irmão José Maria, que não resistiu à inanição. Logo depois, meu pai conseguiu uma "Terra de Posse", para onde nos transferimos. Moramos em redes não sei quanto tempo, mas construimos uma bela casa de alvenaria, no meio da floresta, com tijolos feitos e queimados por nós, pois a terra vermelha é ótima para cerâmicas em geral.

Não demorou e apareceu proposta de compra da "nossa propriedade", como se dizia na ocasião; e meu pai não pensou duas vezes, inclusive por temor à "grilagem". Pegou aquele dinheirinho e partimos de volta para o Frei Inocêncio-MG, aonde um tio meu era gerente de fazenda e nos alojou como agregados, até meu pai conseguir comprar uma nova terra. 

Mais do que rápido, meu pai adquiriu um sítio na alto da Serra do Paiol, local com vistas para toda a região, de onde eu e meu segundo irmão José Maria da Penha, nos setávamos no topo da Pedra do Urubu, ponto mais alto de toda aquela redondeza, e ficávamos contando carros; carros de passeio eram dele e carros de carga eram meus. Como na futura Rodovia Rio-Bahia não passavam carros de passeio, eu ganhava sempre !

É daí que vem a minha atração pelas cidades grandes, porque eu era louco para saber aonde iam tantos carros, tantas carretas, safras e mais safras de arroz, feijão, milho, abóbora, mamão, cana, porcos, galinhas, gaiolas cheias de bois...

MEU LINK NO AVAAZ
http://www.avaaz.org/po/20mm_story_page/?tQouicb&story_id=2824
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